PREOCUPEI-ME DEMAIS!!!
…FORÇA DE EXPRESSÃO…
– Nossa, que bom te ver!!! Fiquei super preocupada que não veio ao trabalho nos últimos dois dias… Aconteceu alguma coisa? Tá tudo bem?
– Nada… Emendei o feriado. Mas por que não me telefonaram? Teriam se despreocupado…
– Ah… nem pensei…
– Cara, souberam do Leleco? Tá zuado! Galera falando que tá doidão direto. Preocupante a situação!
– Ouvi sim… parece que o Miguel tem estado com ele vez ou outra… será que tá nessa?
– Diga-me com quem andas…
– Ah!! Olha o Miguel chegando ali…
– Fala Miguel, beleza?
– Opa! Suave!
– Ow? Tem visto o Leleco?
– Ouvi que tá zuado…
– Ahhh… como o povo fala por aí…
– Nada… ficamos foi muito preocupados…
– Até teve gente que perguntou e vc… que souberam que tava trombando ele vira e mexe!
– Sei… tavam todos bem preocupados né? Mas ninguém foi se encontrar com ele… ligar… eu fui e tão doidinhos pra fofocar de mim também… Se preocupar é ir lá! É agir! Falar de preocupação só pra legitimar a falação é canalhice. Digam aí? Quantas vezes foram lá ver o cara?
– É … não consegui… mas tava pra…
– Parou! Eu que tenho visto ele já te digo: deu uma saída do eixo, mas tá melhor pra caralho! Pode dizer pros que tão falando por aí! Tá bom pra caralho!!!
– E se eu me desse muito mal? Tipo ficasse sem casa?
– Amigo é pra quê brother? Cê tá ligado! Aqui é nóis!
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– Caraca parceiro!!! Tu não acredita!! Fui despejado pelo proprietário…
– Qual foi irmão??? O que pegou?
– Firma rateou… dono me tirou… tava pra rolar aquele trampo que o Orácio tinha me garantido pro mês retrasado.
– Ué?? Não rolou? Ele falou com certeza naquele dia…
– Até esquematizei a parada pra ele. Depois mandou aquelas eloquentes distopias “vem num vai” que “foi ficou” e mandou um valor bacana pro pré trampo, que não tem como não dizer que ficou justo e certo.
– Mas e agora? No quê tá pensando??
– Cara… queria perguntar se tua oferta pra ficar no quartinho tá de pé? Lembra? Mesmo dia que o Orácio falou do trampo…
– Lembro! Opa! Quando vai sair daí?
– Amanhã ou depois…
– Caraca… tá bem encima…
– Mas nem esquenta com arrumação e tal.
– Tu traria móveis e tal? Que aqui tá meio entulhadaço…
– Nada! Loquei mobiliado.
– Boa… é um adianto mesmo…
– Só!
– Bom… minha irmã que vai fazer as provas pra faculdade vai ficar aqui na semana que vem. Coisa de um mês por causa das provas. Minha prima vem com ela.
– Pode crer…
– Mas assim… cola pra cá depois de amanhã. Certeza! Arruma um esquema durante o mês que vem, quando minha irmã e prima estiverem aqui. Depois, pro ano… até normalizar… de boa! Lógico.
– Pô… legal irmão. Vou ver como vai ser e te falo. Ow? Tua prima que vem é aquela do carnaval? Que o Rico ficou de cara?
– É! Ela mesmo!
– Ela estudava na sala da tua irmã não era?
– Essa mesmo! Tanto que vão colar juntas pra essas provas… vestibular e pá…
– Cara… minha cabeça tá mesmo falhando ultimamente… achava que o Rico desencanou porque elas tavam cursando o 1º colegial… mas se estão vindo pro vestibular, já era o 3º…
– Elas devem ter mandado essa pra esquivar… (suadeira… desvio de olhar… movimento de esconder mãos… rápida ajeitada no cabelo… pés desviam a direção em relação ao outro… do cabelo para ajuste das calças… – tudo quase em simultâneo; tudo ocorrendo com entortada labial – pressão à esquerda… – e com aparente expressão de desconforto; ansiedade.
– Pra você ver como ando precisando ver esse lance… – sutil estufada de peito; riso contido de deboche, mas que se esconde para ser visto e deslocamento lento para a posição onde os pés do outro se direcionaram; voz muito sutilmente sarcástica e reerguendo a cabeça e o olhar após o sorriso e a 1ª fala, para olhar nos olhos e lançar com segurança – na minha cabeça elas é que chegaram chegando, mas o Rico e Betão tinham encasquetado com idade e com a chance de pegar mal contigo…
– Caraca! – praticamente saindo da conversa; sorriso fechado, de testa franzida e olhar penetrante de início (raivoso) e fugitivo ao iniciar a frase, após o sorriso dos dentes serrados – tem que ver mesmo a parada… te espero depois de amanhã lá! Qualquer coisa me fala. Valeu! Tenho que agitar umas paradas ai…
– Valeu! Te ligo então! – já rindo pela vã tentativa de seu “Amigo-pra-quê-brother-é-nóis” de se provar firme perante os valores que insiste defender e praticar.
Há certa frustração. Antes de ir já se sabe invasor…
Não há falta de ideologia.
Falta é ação consciente, responsável e consistente.
Ou não….